sexta-feira, janeiro 27, 2006
síndrome de culpa
Quando vi no calendário que o feriado seria em plena quarta-feira, sorri feliz. Um feriado no meio da semana era tudo que eu precisava para dar uma relaxada. Você relaxou? Não? Eu também não.

Terça eu estava mais agitada que a cidade. Jantarzinho num restaurante frequentado por modernos endinheirados e penetras como eu. Expectativas de rever F, que me ligou e topou fazer a via-sacra noturna. Duas festinhas na mesma noite.

Encontrei F já na casa de um amigo. Fiquei vermelha ao cumprimentá-lo e não consegui olhar nos olhos.

Tenho alguns motivos para ter me sentido intimidada. Também senti um friozinho na barriga bem bobo. Logo relaxei, mas os movimentos passaram a ser calculados. Como somos tolos quando temos algum interesse a mais em alguém. Você vai ao banheiro para checar se a maquiagem está perfeita, se o cabelo está ótimo, se escolheu a roupa certa, olha para as mãos, pois caso as unhas não estejam feitas, elas não estarão em cima da mesa em nenhum momento.

Tudo em ordem. Sentei no chão e fiquei perguntando por onde andava minha criatividade para iniciar uma conversa com ele. Claro que saiu tudo embolado, fiquei vermelha novamente, levantei para pegar uma cerveja e relaxar, tropecei, derrubei a cerveja do meu amigo, quis sumir e então entrei debaixo da mesa.

Conversei com um, conversei com outro e demorei um pouco para voltar a minha atenção a ele. Tudo fingido, claro. Eu não lembrava muito bem do rosto dele, pois nos vimos apenas uma vez. Achei-o mais bonito, mais magro e não lembrava que ele tinha olhos tão azuis. Fiquei encantada.

A última vez que nos cruzamos o desfecho da noite foi meio conturbado e eu queria que dessa vez as coisas saíssem bem. Eu também queria que rolasse alguma coisa, mas achei pouco provável essa possibilidade.

Fomos para uma festa, depois seguimos para outra. Resolvi trocar de sapato e o convidei para ir comigo até minha casa, enquanto todos iam na frente. Queria ficar só um pouquinho sozinha com ele, mostrar minha casa e relaxar, porque eu não estava conseguindo.

Mostrei a casa para ele, troquei o sapato, peguei duas cervejas e quando estava saindo, ele sugeriu terminarmos a cerveja. Sentamos. E eu estava mais tensa do que antes. De repente, ele me agarrou. Fui pega de surpresa dessa vez, pois todo o discurso de "eu tenho namorada, amo, ela confia em mim, logo virá para o Brasil me encontrar e eu não posso fazer isso" martelava na minha cabeça, mas tudo pareceu não ter importância para ele naquele momento.

Eu sóbria, arrumadinha, bonitinha e ordinária [naquele momento] me sentindo acuada por um quase desconhecido com um discurso romântico, que fez eu me derreter e pensar "ah, por que eu não cheguei primeiro?".

Depois de recuperar o fôlego, terminar a cerveja e me sentir mais à vontade [os franceses mesmo quando estão com pressa são ótimos - o sex appeal parece estar impregnado em todos os poros], fomos encontrar o pessoal, que fingiram ter nos esperado por apenas cinco minutos, pegamos cerveja, dançamos a noite inteira, tiramos muitas fotos, encontramos muitos amigos e então rolou nossa primeira DR* no segundo encontro.

Como a maioria das mulheres, eu adoro uma DR, tenho todo um discurso pronto, sou articulada, sei fazer chantagem emocional. Resumindo: sou detestável. Sei como começar uma e como termina-la a meu favor. Porém, para essa DR eu não estava preparada, afinal não temos nada um com o outro e muito menos foi eu quem começou a discussão, o que também é raro.

Tudo começou porque estávamos sentados em uma espreguiçadeira e eu, já embalada com a cerveja, não resisti e fui dar um beijinho. A pior coisa que pode acontecer a qualquer ser humano é ter um beijo recusado de alguém com quem acabou de ficar.

Ele se afastou e eu fiz aquela famosa cara de cu. E aí as cortinas se abriram, os tambores rufaram e iniciamos nossa DR, que foi a mais tosca que eu tive na vida e por sorte ando muito bem com minha auto-estima, senão eu teria me afogado na fonte que estava atrás de nós.

A conversa foi a mesma: tenho namorada, amo muito, quero ter filhos com ela, espero que ela possa vir para cá o mais rápido possível, blá, blá, blá.

Há pessoas que não tem noção da vida, de emoções, de relações humanas e muito menos da possibilidade de sermos sensíveis e nos sentirmos um lixo após uma frase mal colocada. Talvez eu tenha me sentido, mas felizmente durou dois minutos. Acho que estou numa fase "eu mais eu mais eu mais eu". Que ela dure muito, porque já fui muito "eu menos eu menos eu menos eu menos eu".

Como ando afiada a resposta foi [tradução superando o original]:

- Se você está se sentindo culpado por ter ficado comigo, o problema é seu. Sua namorada é um problema seu. Você não precisa me lembrar o tempo inteiro da existência dela. Eu já passei pela mesma situação que você [no caso eu era a namorada] e sei como é, mas é algo que você tem que resolver com você e não comigo. Você foi na minha casa, você me agarrou porque quis. Eu não estou esperando que você se envolva comigo. - [ok, eu menti nesse trecho, eu adoraria que isso acontecesse... hehehehe]

- E porque você fez essa cara?

Não disse, mas a vontade foi:

- Sou mulher, sou humana, sou sensível, tenho oscilações na minha auto-estima, tenho neuras, expectativas, vontades e às vezes não reajo bem às rejeições.

E disse algo do gênero:

- Porque você cortou o meu barato.

E ele começou a piorar a situação e falar algumas bobagens até eu mudar o tom da conversa e fingir que nada tinha acontecido, inclusive mesmo ter ficado com ele. E então relaxamos.

E eu me dei conta de que custa caro ser uma pessoa livre. Aliás, o que é ser livre?

Postado por Desiree às 2:12 PM |



4 Comments:
Anonymous Anônimo escreveu...

Sempre bom quando a cortina está fechada, o grande mistério! A cortina abre e vem com tudo: os pratos, surdos, foguetes... e daí não tem como se esconder; ela é a realidade! Poucos são os músicos que tocam de cortina fechada na vida real!

4:43 AM  
Anonymous Anônimo escreveu...

Culpa de tentar o difícil sempre; mulheres vocês não prestam! hehe bjos

4:44 AM  
Blogger Desiree escreveu...

hahahahahaha... como assim as mulheres não prestam? nesse caso aí quem partiu pra cima não fui eu e sim o rapaz, que depois ficou se sentindo culpado!

12:51 PM  
Anonymous Anônimo escreveu...

quem não presta são os imprestvaeis. as mulheres são só dificeis !! eu parto pra dentro e depois resolvo a questão !

9:13 AM  

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