quarta-feira, março 01, 2006
viagens vertiginosas ao "vento"
Há viagens que para mim são necessárias, em especial pela experiência de vive-las [tanto que o melhor é não repeti-las muito ao longo da vida]. Afinal em nada elas alterarão a minha vida, mas talvez dê um colorido a mais que estava faltando. Agora entendo os cineastas chineses [ou não] que enchem suas telas de cores de forma estonteante. Fui por alguns instantes Zhang Yimou e fiz meu próprio "hero".

Tudo começou na manhã de domingo. O carnaval prometia uma viagem tranquila, recheada de filmes, músicas, livros, sonecas e bons papos. Grupo pequeno em busca de descanso e distanciamento de grandes públicos e agitação temperada.

Enchi minha mala de dvd´s, revistas e "Sábado" do Ian McEwan. Também levei comigo um caderninho para deixar flutuar idéias que surgissem no meio do quase isolamento. Ele não saiu da mala, não por falta de idéias, pois essas nunca estiveram tão em evidência quanto neste carnaval, mas por falta de coragem de segurar uma caneta.

O dia brilhava e então resolvemos colocar em prática nossa experiência sensorial que há mais de um ano guardávamos. É, pode parecer absurdamente estranho guardar a chance de ter uma experiência por tanto tempo, mas sempre quisemos que rolasse num momento muito especial. Este carnaval foi perfeito.

Fomos para a praia ansiosos com o que passaríamos a sentir a partir de uma hora mais ou menos. Nos instalamos no canto da praia, afinal não queríamos chamar atenção e quase passamos incólumes. Por sorte optamos por um pequeno paraíso perdido no litoral norte, então a platéia era realmente pequena.

Fui para o mar, que estava plácido, com meu colchão inflável e fiquei horas jogada nele com um sorrisão estampado com uma sessão particular com Dario Argento e Zhang Yimou Tentei voltar para a terra, mas a dureza e aspereza da areia me impediram de ficar nela. Voltei para a água. As nuvens formavam belíssimas histórias e com os olhos fechados era só sintonizar a cor que eu queria ver o mundo. Os olhos virados para cima, eu via tudo em vermelho, os olhos para baixo, eu via tudo em amarelo. Houve um momento que vi o céu cheio de limões cortados e ri por achar que o mundo era uma grande caipirinha. As árvores se transformaram em famílias, as pessoas à minha volta em desenho animado.

Tentei jogar frescobol, mas era impossível acompanhar o movimento da bola. Deitei na areia e fiquei muito tempo contemplando o céu azul e depois voltei a brincar de sintonizar canais diferentes no meu cérebro com os olhos fechados. Ficar na areia por muito tempo era incômodo, então eu sempre voltava ao mar. Já no meio da tarde e depois de muitas risadas e vertigens, decidimos que queríamos ouvir "The Zombies".

Ouvir "The Zombies" transformou-se em uma experiência incrível. E claro, depois de ouvir "The Zombies", ter uma experiência estranhíssima ao tentar comer biscoito de polvilho, eu tentei dormir. Em vão. O real se misturava com minha imaginação. Tudo parecia estar à flor da pele. Via o que não estava lá, ouvia o menor acorde, sentia qualquer suspiro ao longe.

No final da tarde senti um vulto entrando no meu quarto. Fiquei quieta, não abri os olhos e então senti alguém se sentando nas minhas pernas, espalhando óleo nas minhas costas. Tentei ver quem era, mas minha visão estava limitada devido a posição que eu me encontrava. Fiquei quieta apenas sentindo aquelas mãos macias massageando as minhas costas, o perfume adocicado do óleo penetrando minhas narinas, o peso dele nas minhas pernas. Não sei quanto tempo durou, mas a sensação era extasiante e eu não queria que ele parasse. Quando enfim ele se levantou e eu desconfiei de quem era [tudo parecia turvo e incerto], o chamei para um abraço, pois era tudo que queria. Ele deitou sobre o meu corpo e ficou por poucos minutos me envolvendo nos braços dele. E então se foi.

Como tudo ganhava uma nova cotação, este momento multiplicou-se em vários e teve várias formas. Para mim foi como uma comunhão. Quando despertei, eu achei que tivesse sonhado, mas então senti o cheiro adocicado e vi o óleo na cadeira ao lado da minha cama. Fui para a praia. No caminho encontrei Seth, que topou me acompanhar. Ficamos sentados debaixo de uma árvore vendo o dia se encerrar. Tivemos uma conversa desconexa com um garoto e então instalou-se um silêncio entre nós que me perturbou um pouco. Quis comentar sobre como foi bom aquele momento no quarto, mas não ousei falar.

No caminho de volta o silêncio era pesado e eu não entendia muito bem o que estava sentindo naquele momento. Senti uma vontade imensa de abraça-lo bem forte, de dizer o quanto ele é importante para mim e que é uma das pessoas que mais amo nessa vida. Quase chorei ao tentar perguntar se um dia eu encontraria alguém como ele para mim, que tantas vezes faz eu sentir que é minha alma gêmea. E como se sentisse tudo que eu estivesse pensando, pegou na minha mão e nos olhamos com os olhos cheios de lágrimas [ou será que também não era real?]. É, senti uma emoção incontrolável que eu não sei traduzir o que foi aquele momento, mas foi o mais especial de todos.

A noite chegou e ainda estávamos em nossas viagens particulares. Assistimos "Sin City", que foi uma experiência completamente surreal, mas a violência me incomodou e eu não consegui ir tão longe no filme.

Depois ficamos assistindo os desfiles das escolas cariocas, mas com o iPod ligado. Nada de samba enredo nos ouvidos. Ficamos até a madrugada dublando os desfiles, rindo, mergulhando na Absolut Peach e buscando o sono que não vinha. Já vencidos pelo cansaço, todos esticaram para suas camas, mas a noite foi movimentada.

Na segunda-feira não houve muita vida. Todo mundo preguiçoso, cochilando por todos os cantos, algumas tentativas de curtir uma praia, mas o dia se passou com livros, revistas, músicas e filmes. E aí foi a hora de recuperar as energias e curtir o restante do feriadão, que para mim foi perfeito em todos os aspectos. Às vezes eu preciso me desligar e curtir as minhas irrealidades, que neste domingo ganharam formas tão coloridas e especiais.

Postado por Desiree às 6:51 PM |



3 Comments:
Blogger Claudio Eugenio Luz escreveu...

Minha cara, entre idas e vinda, sonhos e passeios, ao som dessas bandas, cantores, musicos, esteve mais do que bem acompanhda.

hábraços

claudio

4:20 PM  
Blogger Ronzi Zacchi escreveu...

Carnaval na minha cidade é a visão do inferno!

11:19 AM  
Anonymous Anônimo escreveu...

Lucy in the beach with Diamonds!

5:48 AM  

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