sexta-feira, agosto 12, 2005
o idiota

Às vezes eu ajo como uma grande idiota. Assumo. Esse é o grande problema quando falamos pelos cotovelos. Ontem me dei conta de grandes infelicidades que cometi. Palavras erradas na hora errada e para as pessoas erradas. Palavras que depois você não lembra que falou, mas fica com vergonha de ter dito.

Ontem tive um dia estafante. Emocionalmente as coisas andam desalinhadas: doença do pai; problemas com o roommate; coração desalentado; finanças corroídas e um Monte Olimpo ainda reinando imponente na bochecha, mesmo após uma erupção noturna.

Cheguei em casa com a mente tão distorcida, que resolvi apagá-la no travesseiro. Uma hora e meia de sono turbulento depois, a preguiça tentava dar cabo aos planos noturnos: a habitual festinha rock´n roll às quintas. Ainda eram 21h30, então liguei para um amigo que acabou de chegar nesta cidade e, como todos que aterrizam aqui pela primeira sem qualquer muita referência e amigos, o medo não é pequeno. Afinal é fácil ser engolido por esta cidade. Eu o conhecia apenas pela internet e resolvi dar uma força. Inicialmente até cogitei em alugar um quartinho para ele, mas aí caí na real que morar em três não é uma boa idéia quando você é alguém ranzinza e tem apenas um banheiro. Neste caso a opção é continuar com as finanças apertadas.

Achei o rapaz bem simpático, apesar de extremamente tímido, mas fui com a cara dele, tanto que convidei-o para almoçar com minha família no domingo, assim ele se sente menos deslocado e eu me sinto uma pessoa extremamente gentil e generosa. Às 23h30 deixei-o no albergue e fui encontrar as amigas de guerra. Depois mais algumas pessoas aterrizaram na minha casa e fomos em comitiva para a tal festinha.

Eu estava ansiosa em encontrar o Brian, pois fazia uma semana que não o via. Dei-me conta de que minha amiga anda tão interessada nele quanto eu. Eu já tinha desconfiado disso na semana passada e até abri meu coração dizendo que ele andava fazendo eu tremer nas bases. Ela riu e disse que ele era de fato alguém interessante.

Fiquei uns dez minutos com meus amigos e não aguentando mais, fui dar uma voltinha pela casa para ver se eu o encontrava. Lá estava ele, com minha amiga ao lado cheia de sorrisos e mensagens corporais. Nada como decorar o tal livreto O corpo fala. Você saca tudo. Está afim, não está afim, quer dar, não quer dar, quer beijar, quer tocar, quer se aproximar, quer fugir, quer ir embora, quer isso, que aquilo, não quer nada.

Juntei-me à dupla com o coração batendo descontroladamente e as pernas tremendo. Péssimo sinal. O papo já não fluía como antes, pois eu me sentia apreensiva e o fato da minha amiga estar pendurada nele me irritava. A vontade era, sem querer, derrubar a minha cerveja nela. Talvez ela quisesse o mesmo comigo.

A noite transcorreu de forma estranha. Eu não relaxei como de costume, bebi um pouco além da conta [ok, foram 3 cervejas e metade de um drink azul cedido pelo Brian] e tive vontade de sumir. Falei as bobagens de sempre, tirei risada das pessoas e tive vontade de roer as unhas. Não olhei para ninguém, pois parecia em prontidão. E o Brian lá, inatingível. E minha lá, toda oferecida atrás da sua lente de contato azul.

Às 4h eu resolvi que era hora de ir embora. Ainda, tolamente, mandei um torpedinho idiota para o Brian, que obviamente ignorou. Por que se conter é tão difícil? Eu sou tão impulsiva, tão de rompantes, tão exagerada, tão ansiosa.

E agora, para completar meu dia, que não está lá essas coisas, duas pessoas comentam que tiveram sonhos comigo e neles, eu estava chorando, sendo que uma delas não tem a menor idéia do que anda rolando na minha vida. Claro que isso me tira a mínima paz que aqui resta, já que na segunda-feira meu pai vai encarar uma cirurgia inesperada. O jeito é aguardar, tentar relaxar e acreditar que dará tudo certo.

Um turbilhão de coisas acontecendo e eu não estou dando conta. Queria que o mundo parasse para eu dar uma descidinha rápida para respirar e quem sabe, voltar com novo fôlego.

Postado por Desiree às 5:34 PM |