segunda-feira, julho 11, 2005
O difícil acerto de contas
Estranho revê-lo depois de tanto tempo. Estava até com dor de barriga. Claro que tomei um bom banho, fiquei cheirosa, coloquei uma roupa bacana, fiz uma maquiagem leve e lá fui eu, com poucas armas na bolsa ao nosso reencontro.

Eu tinha, no fundo, alguma má intenção. Marcamos o encontro num barzinho próximo de casa, porém logo que cheguei me deparei com um paquera, então resolvi mudar os planos, pois eu já sabia que ia chorar, ficaria mal e não queria que ele me visse neste estado tão lamentável. Logo que o carro dele virou a esquina, fui correndo recepcioná-lo na porta. Meu coração disparou. Achei-o diferente com os cabelos sem corte e também um pouco acima do peso. Feio ou bonito, eu gosto dele do mesmo jeito. Amor é assim, não escolhe.

Nos cumprimentamos sem graça e eu sugeri o boteco que ficava na esquina. Fomos para lá, pedimos cerveja e despejamos aquela maldita mágoa que não permitia que eu seguisse em frente. Não gosto de nada mal resolvido na minha vida. Estranho olhar para alguém que até pouco tempo atrás era tão íntimo e de repente não poder tocá-lo mais. Não me esnti inteiramente a vontade e no início eu nem sabia o que falar. Soltei um risinho nervoso e confessei que não sabia por onde começar. Felizmente ele quebou o gelo e falamos sobre amenidades até chegarmos naquela ferida grotesca.


A mágoa dele me surpreendeu. Percebi que meu ato levou-o a me odiar e que me ver na frente era algo insuportável. Chorei. É, eu sempre choro em situações como esta. Queria poder voltar no tempo, fazer as coisas diferentes e controlar a minha língua. Esqueci que ao meu lado tinha um ser muito mais sensível que eu. Como será que eu me comportaria se fosse ele quem tivesse me mandado me foder? Não sei, mas eu teria perdoado. Eu sempre perdôo, pois acho que as pessoas são falíveis demais. Mas não souberam me perdoar. Acho que fiquei marcada para sempre na vida dele e da forma mais negativa possível. Logo eu que tanto fiz, que tanto me entreguei, que tanto aguentei. No fundo eu não sei amar incondicionalmente. Se eu perdôo, eu espero que o outro faça o mesmo, mas a generosidade não está em todos os lugares.

Ele segurou na minha mão quando comecei a chorar. Ele perguntou o porquê de eu ter falado com ele daquela maneira. É, três meses para ele querer saber o motivo do meu rompante. Isso me chateou, pois me crucificou sem ao menos saber o motivo ou se houve de fato um motivo. Apenas explodi. Isso é proibido?

Depois ele se tocou das mãos entrelaçadas e soltou a sua de sopetão. Fiquei sem graça. Nessas horas eu queria fumar. Sei lá, sempre acho que cigarro em momentos como esses ajuda a relaxar. Virei um gole grande de cerveja e tentei sorrir. Uma hora e meia depois de papo ele foi me levar para casa. Tudo que eu queria era dar um abraço forte. Quer dizer, tudo que eu queria era poder levá-lo para a minha casa, enfiá-lo no meu quarto e ficar deitadinha com ele na minha cama.

Quando o carro parou próximo ao meu prédio, eu pedi um abraço. Nos abraçamos muito forte e eu disse que era muito bom estar assim com ele. Ele respondeu que também gostava. Quando fomos nos soltar, eu não resisti e beijei-o nos lábios. A princípio ele se deixou levar pelo meu ato, mas logo em seguida me afastou e disse que era por isso que não poderíamos ser amigos.

Não entendo porquê de duas pessoas se gostarem, mas não ficarem juntas porque há uma falha no passado que não permite uma segunda chance. Fui para casa, onde alguns amigos me esperavam. Logo na entrada me deram uma taça de vinho e então eu desabei a chorar. E tudo aquilo que estava entalado, aquele nó maldito, veio para fora. Chorei copiosamente. Tranquei-me no quarto, relembrei nossos bons momentos, desejei-o e ainda mandei um torpedinho agradecendo-o pela noite.

Dormi embalada por lágrimas e pela tristeza de que o ponto final era definitivo. Eu sempre tenho esperanças, mas desta vez a minha morreu.

Postado por Desiree às 11:30 AM |